
Dependências Comportamentais
- Nathália Barabás
- 9 de ago.
- 3 min de leitura
Muito se fala sobre dependência de substâncias: diversos filmes, séries e livros se baseiam nessa ideia. O termo “dependência comportamental”, porém, é expressivamente menos divulgado.
A dependência comportamental diz respeito a estímulos que nos geram prazer e que, com o tempo, podem nos tornar dependentes. Alguns exemplos são o vício em pornografia, jogos, internet, sexo, compras e apostas.
Esses estímulos, por terem um forte componente de prazer, geram uma sobrecarga de dopamina, o hormônio do prazer, que desestabiliza nossa “balança” sofrimento x prazer. Para tentar restaurar o equilíbrio, o corpo pende a balança para o lado do sofrimento.
Quando esse sofrimento adicional se instala, passamos a buscar mais estímulos prazerosos, cada vez mais intensos e frequentes, já que a recompensa obtida diminui à medida que repetimos o comportamento. É como aquele doce especial que, se consumido diariamente, vai perdendo a graça.
Mas por que buscamos incansavelmente essas fontes de prazer? E, mais importante, por que tendemos a hiperconsumir?
O corpo e o cérebro humanos não acompanharam a velocidade da evolução tecnológica e social das últimas décadas. “Somos como cactos em uma floresta tropical”, diz o Dr. Tom Finucane, descrevendo nossa relação com o meio. Somos biologicamente preparados para a escassez : reservas de gordura corporal, fluxo limitado de informações, relações sociais restritas a um grupo próximo e notícias chegando de forma mais lenta. Hoje, no entanto, vivemos sem limites de tempo, espaço ou conexões.

Podemos comprar algo que chega no mesmo dia sem sair de casa. Sites com filmes pornográficos atendem a todos os públicos de forma gratuita e imediata. Aplicativos permitem marcar encontros deslizando um dedo na tela. Conversamos com conhecidos (e desconhecidos) sem investir tempo em encontros presenciais.
Essa praticidade, embora confortável e funcional, também facilita o consumo e o abuso de estímulos. Quanto mais fácil o acesso ao objeto desejado, maior a probabilidade de consumo excessivo e de desenvolver dependência.
Como saber, então, se somos dependentes ou apenas consumimos de forma saudável?
O primeiro sinal é o sofrimento gerado. Dependências sempre trazem prejuízos, sejam eles no desempenho profissional, nas relações, nas finanças ou na saúde. Também é essencial observar o tempo e os recursos gastos para manter esse comportamento e o impacto de sua ausência.
Perguntas que ajudam na reflexão:
Como é o meu consumo? Quantas vezes ao dia, por quanto tempo, em quais horários e de que forma?
Que impactos isso traz para minha vida?
Como me sinto durante e após o comportamento?
Ao me privar desse consumo, o que sinto? Quanto tempo consigo ficar afastado?
As respostas podem nos trazer uma visão inicial sobre o grau de dependência e seus prejuízos.
E se eu identificar que tenho uma dependência?
Primeiramente, sempre que possível, busque ajuda profissional. Um psicólogo pode investigar as origens do vício, indicar estratégias alternativas e auxiliar no manejo de sentimentos difíceis e pensamentos distorcidos.
Quando o acesso a um profissional não for viável, uma ferramenta útil é a abordagem DOPAMINE, proposta pela Dra. Anna Lembke, aplicável tanto a dependências comportamentais quanto químicas:
D — Dados: identificar qual é a dependência, quando ocorre e com que frequência.
O — Objetivos: entender a função do comportamento. O que busco com ele? De que sofrimento estou fugindo? Como me sinto durante e após?
P — Problemas: listar os prejuízos que esse vício causa.
A — Abstinência: interromper total ou parcialmente o consumo por, no mínimo, um mês.
(Atenção: no caso de dependência química, essa etapa deve ser acompanhada por profissionais, pois a retirada abrupta pode gerar riscos sérios à saúde.)
M — Mindfulness: praticar atenção plena, especialmente nas primeiras semanas, que costumam ser as mais desafiadoras. Essa técnica consiste em permanecer no momento presente, percebendo sensações e pensamentos sem julgá-los nem tentar fugir deles.
I — Insight: avaliar como foi o período de abstinência, identificando mudanças, dificuldades e melhorias.
N — Novos passos: definir como prosseguir, estabelecendo metas e buscando autonomia em relação ao vício.
E — Experimentos: testar estratégias, sejam elas manter abstinência total, retomar o uso em menor escala ou ajustar ambientes e hábitos, sempre avaliando os resultados.
(Aqui, volto a reforçar a importância de acompanhamento especializado, pois nossa percepção de consumo saudável nem sempre será clara.)
Para concluir, convido você, caro leitor, a revisitar seus hábitos de consumo, seja ou não dependente. Ganhar consciência sobre aquilo que fazemos no automático é um passo valioso em direção ao equilíbrio e ao bem-estar.
Nathália Bertani Barabás Almeida
Psicóloga Clínica Especialista em Terapia Cognitivo-Comportamental
CRP 06/134422





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